terça-feira, 4 de setembro de 2007

A saga de um menino

Não me lembro ao certo quem a trouxe
mas era pequenina
esperta
branca de manchas pretas
minha Lili




Lili Bonifácio brincava comigo
na indisposição de meus irmãos




meu pai criador de passarinhos
espalhava as gaiolas por todos os lados

curió
canário da terra

picharro

sabiá-laranjeira


pássaro preto

periquitos



o canário do reino estava na varanda
eu
morcego
Lili
prodígio

em nossa luta contra o mal


peguei-as nos braços
e a joguei para o alto


com suas unhas afiadas
agarrou-se na gaiola
acho que nem gostava de passarinhos
nunca provara
nunca saberei




caíram
ela e a gaiola
o passarinho quebrou a perna




vivíamos em regime patriarcal
tudo era resolvido após as seis




o dia durou cem anos em escuridão
o som das botas
estremeciam
da calçada
a porta
toc


toc


toc





os três para a sala
quem derrubou a gaiola


se não falarem será pior



não podia deixar meus dois irmãos
serem castigados por um crime
que não cometeram
nem sabiam



vamos digam alguma coisa
pai
eu estava brin-can-do
com a Lili

e
ela pulou



onde ela está
é a última vez que você a está vendo



estou livre
mas em minha saga
talvez eu seja coringa

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

A saga de um menino é realista na retratação da grandeza do menino ante a frieza e a brutalidade, do mundo adulto.